segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Ilha - Parte II [Capítulo Paralelo]

Selene e Albert passaram muitas noites no porão do navio, confinados na umidade e no crescente cheiro de algas apodrecendo. Era verdade que a princesa se sentia muito solitária alí, mesmo com a presença do Conselheiro na cela ao lado da sua, mas na verdade ela possuía mais um visitante além do irritante soldado que roubara seu soutien.

Tess visitava-os todas as noites, e em algumas delas eram várias idas e vindas. O soldado chegava discretamente com passos macios num tablado que não rangia e se encostava numa coluna qualquer apenas para observá-la dormindo. É verdade que sempre certificava-se de ambos estivessem dormindo, mas isso não era bem verdade. Albert sabia, mas nunca se revelou a respeito, apenas via, com os olhos quase fechados o jovem contemplar Selene em sua cela.

Muitas vezes ele parecia ter uma expressão neutra, e olhar quase que de relance, mas em outras colava-se rente às grades, na intenção de chegar perto de quase tocá-la por alguns centímetros, mas sempre recuava como se mudasse de idéia. Albert se perguntava a quem ele seria leal. Geralmente Tess disfarçava muito bem quaisquer que fossem seus conflitos internos, mas quando ele tinha certeza, uma certeza quase absoluta em que poderia apostar sua alma que ninguém o perceberia alí, seu rosto tornava-se magoado e triste, e tentava cada vez mais alcançar Selene em qualquer parte que fosse.

Ele parecia sentir falta da sensação do toque de sua pele, do perfume imutável de rosas que ela emanava, dos cachos dos cabelos macios, da boca doce e dos olhos intensos e profundos que ela tinha. Eles eram como o mar. A saudade dele era marcada em todo gesto do jovem, desde o leve descer das escadas até a tentativa, quase desesperada, de poder alcançar e tocar um milímetro da pele dela outra vez...

Era confuso para Albert que alguém tão controlado às vistas dos outros pudesse demonstrar tanta saudade e necessidade de estar junto de uma certa pessoa quando pensava encontrar-se sem vigilância dos olhos da sociedade. Era triste ver como a demonstração de afeto não existia mais numa situação normal, não se tinham mais os toques gentis ou as declarações de carinho e amor que haviam antes. O que significaria uma visão como aquela que Albert tinha toda noite? A princesa dormindo, exausta, ressentida, cansada de lutar e esperar, e o bravo soldado que durante o dia nada demonstrava, mas que a cada momento de suposta solidão social anciava pelo toque doce da pele de sua amada, por qualquer palavra e esperança vindas dela, mas que sempre ficava a alguns centimetros de se alcançar...

[Soundtrack: "I Miss You" - Blink 182]

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