terça-feira, 28 de junho de 2011

Doloroso Adeus - Parte III

Os dois prisioneiros eram empurrado com certa brutalidade para suas celas enquanto alguns marinheiros sorriam de leve. Selene sentiu nojo deles por isso. As celas eram na parte de baixo do navio, frias e úmidas, com um pouco de musgo em suas grades. Ambos foram jogados, cada um em sua cela, com suas coisas atiradas logo em seguida.

- Podem ficar com seus "trecos", não acredito que nada disto seja útil... ou talvez... - o soldado fez uma pausa, e mostrava um sorriso largo enquanto tirava algo de seu bolso - talvez isso aqui tenha alguma utilidade...

A coisa nas mãos do dito soldado era um sutien que ele afanara da mochila de Selene. Ela corou e rangiu os dentes, atirando-se contra as grades.

- Seu porco imundo! - disse ela tentando alcançá-lo - Devolva!
- Vou guardar esse aqui como uma lembrancinha... Ou talvez vendê-lo se oferecerem um bom preço... - respondeu ele lambendo um dos bojos do sutien de renda - Você tem um cheiro bom, princesa...
- Seu doente... - disse ela, mas ele já havia se afastado, rindo de um modo distorcido.

Selene então afundou-se, sentando no chão, com o rosto nos joelhos.

- Calma, meu bem, vai dar tudo certo... - disse Albert.

Ela encolheu-se um poquinho mais, mas ficou feliz de ter Al por perto. Ele me salvou... Mas como será que ele sabia? E porquê não fez perguntas?

- Al? - perguntou ela baixinho, com a voz chorosa.
- Sim, meu bem?
- Como você sabia? Quero dizer... Como sabe que não fui eu que matei o rei? - mas Albert ficou em silêncio por alguns minutos.
- Al? - chamou ela mais uma vez.
- Durma, Selly, amanhã pensaremos com mais clareza... - e deitou-se de costas para ela sobre um pedaço de pano qualquer que trouxera consigo. Ela também virou-se para o lado, pensando que Albert, apesar de ser um bom homem, ainda era muito misterioso.

A noite seria difícil, era óbvio. Selene havia sido acusada de um assassinato que não cometera, havia decepcionado seu pai, e fora condenada à morte junto com Albert. E o mais importante: ainda não vira Tess. Ela fechou os olhos. A lembrança de seu sorriso era tão clara que era quase confortante. Mas sua falta a fazia sentir frio, ao que adormeceu tremendo no chão de madeira.

[Soundtrack: "Pioneer to the Falls" - Interpol e "Sober" - Kelly Clarkson]

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Doloroso Adeus - Parte II

Selene e Sir Albert vagavam na invenção errante que cruzava os campos Floratta com os soldados atrás deles em seus cavalos. Porém, havia um detalhe cruel: quem liderava a busca de seus soldados era o próprio vice-rei. O estranho transporte era rápido, mas não o suficiente, então, após algumas horas de perseguição, os procurados finalmente foram pegos.

Selene fora puxada pelos cabelos por um dos soldados, caindo do bizarro veículo, e sendo arrastada um metro ou dois pelo chão de terra, enquanto Albert foi empurrado da direção, caindo ao lado de um dos cavalos. Ambos ganharam vários cortes e arranhões, e mal se levantavam quando os cavalos afastaram-se, abrindo caminho. O vice-rei passava pela pequena trilha feita pelos cascos dos cavalos, vestia seu tradicional uniforme de militar e os olhos estavam cobertos pela sombra de seu quepe.

Albert foi pego de costas por um dos soldados enquanto outro puxava Selene para levantar-se. Apesar dos arranhões e da raiz de seus cabelos doerem, ela levantou-se com um pequeno sorriso nos lábios.

- Papai, você sabe que não fui eu... Você sabe, não sa-

A frase foi cortada por um tapa que ela recebeu do vice-rei. Selene ficou em choque, assim como Albert e a maioria dos soldados alí presentes. Era a primeira vez que ele havia feito isso. Mas não havia doído tanto quanto o rápido olhar que ele lhe lançara para voltar ao seu rumo com todos atrás de si. Decepção.

Ela seguia apenas pela inércia dos soldados puxando-a pelos braços, mesmo em choque, suas pernas ainda funcionavam, e pelo caminho, Albert era o único que a olhava com alguma compaixão nos olhos. A marcha pela cidade era lenta, e por todo o lado, surgiam cidadãos curiosos que acompanhavam a escolta até a Praça Central. A notícia tinha se espalhado rapidamente, portanto a praça obviamente já estava cheia de curiosos quando Selene e Albert foram trazidos para lá.

Todos falavam baixinho entre si, comentando o ocorrido. Era possível sentir o ar de fofocas e ver os sorrisos maldosos de uma ou outra pessoa que instigava uma conversa sobre traição. Selene olhou todos com ódio, sem dizer uma palavra. É claro que o povo era assim, todos os povos eram. Sempre esperam grandes fofocas e traições entre a realeza, acioso para espalhar o veneno de suas linguas afiadas.

Traidores, pensava ela, mesmo sabendo que é natural do ser humano apreciar a tragédia do próximo. Ela e Albert foram puxados até o centro da praça e presos em algemas enquando o vice-rei se punha ao lado deles, desenrolando um rolo de pergaminho para ler. Em voz alta, ele declarou a prisão de ambos por assassinato e cumplicidade, e traição à Coroa. Ambos seriam condenados a se deixados à deriva no mar até morrem por afogamento.

Eram palavras duras para um pai dizer sobre a própria filha e ao gentil conselheiro de seu pai morto, mas ele nao gaguejou nenhuma vez, suas palavras eram firmes e rígidas com sua postura. Ele não tinha escolha senão seguir a lei, e mesmo Selene sabendo disso, sua boca pendia levemente de indignação. Não era justo.

O vice-rei mandou que o navio fosse carregado enquanto o povo lhes jogava tomates. As pessoas riam, porque é isso que elas gostam de fazer. O soldado insistente que a segurava logo encaminhou-a para o navio, com Albert atrás de si, também preso por um brutamontes. As algemas eram apertadas e faziam os pulsos incharem, não só pelo aperto, mas pelo nervosismo de ambos.

A multidão obviamente também os acompanhava em direção ao píer. Selene e Albert seriam trancados nas celas do navio. Provavelmente eles ficariam à pão e água, mas isso não era importante. Ela finalmente havia percebido que Tess não estava entre os soldados. Seus olhos marejaram. Não fazia idéia de onde ele podia estar. Seu peito ardeu e as lágrimas ameaçaram cair de seus olhos. Iria ele, talvez, no último minuto, salvá-la?

Então ela o viu. Ele entrava no navio com outros soldados e marinheiros. Ele não olhara para ela, apenas entrara com os outros.

[Soundtrack: "Crablouse" - Lords of Acid e "I don't care" - Apocalyptica]

domingo, 26 de junho de 2011

Doloroso Adeus - Parte I

Selene chegou no exato instante em que o rei caía da sacada do castelo, ao mesmo tempo em que sua cópia desaparecia no ar com um sorriso infernal nos lábios finos. A cena pareceu durar para sempre, como se o velho caísse em câmera lenta e não havia nada que ela pudesse fazer. Debruçou-se numa tentativa vã de alcançá-lo, perdendo-o de seus dedos por poucos milímetros, ainda podendo ver de relance o brilho da faca em seu peito, além do último brilho de seus olhos desaparecendo em milésimos de segundo.

Todos que jantavam no jardim ouviram o baque que o corpo fez ao cair no chão. Uma coroa de sangue se fez em volta do crânio trincado pela queda, enquanto outros ossos haviam quebrado de maneira bizarra deixando fraturas expostas e fazendo com que a carne parecesse mole ou repuxada demais. A espada estava bem fincada em seu peito, o qual também brilhava de um sangue negro e ainda morno de quem acabara de ser morto. O mais curioso foi a expressão no rosto do rei quando as pessoas em volta foram tentar socorrê-lo: era a expressão de alguém que parecia ter visto um demônio antes de morrer.

Os vários convidados daquele jantar de união política de Floratta e Falcon se amontoavam em volta do rei, todos curiosos. Até que um deles olhou para cima.

- Olhem, na sacada! Ela empurrou o rei! - Era um sujeito encapuzado que apontava, ao qual ninguém realmente deu atenção, já que esta se voltou inteiramente para Selene, que ainda permanecia em choque na sacada do castelo.

Olhando mais atentamente, naqueles segundos que pareciam ser eternos, ela reconheceu o rei de Falcon dentro do capuz negro. Seu sorriso não poderia ser mais típico, o eterno sorriso esnobe e hediondo, como se pudesse conseguir qualquer coisa no mundo. Mas naquele momento ele realmente conseguiu. Em poucos segundos toda a estabilidade política e governamental de Floratta se desfizera.

No instante seguinte, os soldados do reino já haviam entrado no castelo para prendê-la, mas ela, recobrando a consciência do havia ocorrido, correu o mais longe que pôde, a tempo de conseguir escapar deles. Selene correu sem olhar para trás, primeiramente a esmo, e em seguida para a casa de Sir Albert, o conselheiro do rei.

Se havia uma pessoa naquele mundo que podia ajudá-la, esse alguém era Sir Albert. Além de conselheiro do rei, ele havia sido seu professor em muitas das coisas que ela precisava aprender tanto para levar o reinado adiante, assim como sobre coisas que ela precisava entender sobre a própria vida. A pesar da enorme diferença idade (ela tinha pouco mais de 20 anos, e ele, provavelmente, estaria lá pelos seus 70 ou 80 anos), eram grandes amigos e ele sempre fora uma espécie de tutor para ela.

Quando chegou à porta de sua casa, Albert já a esperava ao lado da porta.

- Como você...?
- Não dá tempo de explicar, meu bem, entre.... - disse conduzindo-a para dentro de casa - temos que sair daqui.

Então Albert pegou uma mochila, e pôs nela todo o tipo de coisa de sua casa que Selene nunca havia visto. Ele corria pelos aposentos com a garota atrás de si, pegando vários objetos estranhos, que mesmo acumulados em sua mochila, ainda não ocupavam tanto espaço. Durante a corrida pela casa, Selene reconheceu certos objetos seus, coisas de valor sentimental que deixara na casa de Albert em ocasiões anteriores de aprendizado e conversa.

- Pegue somente o essencial! - disse ele no quarto ao lado. - Temos que nos apressar!

Ela também pegou uma mochila, e começou a pegar todo o tipo que coisa que considerava importante ou que poderia lhe vir a ser útil. No momento seguinte, ela viu Albert entrar em algum tipo de invento estranho, no qual entrou também. Jogou a mochila em seu colo, vendo a casa-fortaleza de Albert se trancar sozinha, enquanto eles se afastavam, provavelmente para nunca mais voltar.

[Soundtrack: "Beautiful Monster" - Ne-Yo e "This is Not America" - David Bowie]

segunda-feira, 20 de junho de 2011

The captain of her heart - Double

The Captain Of Her Heart


It was way past midnight
And she still couldn't fall asleep.
This night the dream was leaving
She tried so hard to keep.

And with the new day's dawning
She felt it drift away.
Not only for a cruise, not only for a day.

Too long ago, too long apart
She couldn't wait another day for
The captain of her heart.

As the day came up, she made a start.
She stopped waiting another day for
The captain of her heart.

Too long ago, too long apart
She couldn't wait another day for
The captain of her heart.

Too long ago, too long apart
She couldn't wait another day for
The captain of her heart.

As the day came up, she made a start.
She stopped waiting another day for
The captain of her heart.

Too long ago, too long apart
She couldn't wait another day for
The captain of her heart.


(I love you... so much)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fator Fantasma

Há muito, muito tempo, antes das guerras, antes que o mundo voltasse a ser mundo, havia uma lenda. Parte daqueles que andavam sobre a terra eram os chamados "erhantes", os que possuíam o fator fantasma. Ninguém nunca definiu com precisão o que isto seria, mas da lenda se infere que sejam coisas como habilidades que certas pessoas possuem.


O fator fantasma passava muito tempo dormente dentro do corpo, até que ocorra aquele momento, o terrível instante em que vemos nossa vida desmoronar completamente diante de nossos olhos. E então o fator fantasma finalmente se manifesta. Alguns diziam que as habilidades eram aleatórias, outros diziam que elas se desenvolviam a partir de uma particularidade específica da personalidade de cada pessoa. Mas a verdade é que ninguém sabia ao certo.



Sabe-se lá quanto tempo depois Selene e Albert acordaram em uma ilha qualquer, com parte de seus corpos entrerrados pela areia trazida pela maré. Ela foi a primeira a acordar, sentindo o gosto da areia em sua boca. Tossiu algumas vezes e ajudou o velho a se levantar.


- Tudo bem, Al? - perguntou ela segurando-o por um braço.

- Tudo sim, meu bem - respondeu ele esboçando um meio sorriso.


Ambos olharam em volta por um segundo.


- Onde estamos?


Nesse instante, uma rajada de vento passou por eles levantando um pouco de areia e o olhar de Albert tornou-se sombrio, permanecendo em silencio, sem responder a pergunta. De repente tudo pareceu estar um mais escuro do que o normal, embora não houvesse nuvens no céu.


- Vamos, - disse ele - temos que procurar algum lugar para ficar...


Albert limpou parte da areia de sua roupa com as mãos e seguiu ilha adentro com Selene atrás de si.