domingo, 17 de abril de 2011

Noite

Ela andava pela rua, olhando para a lua, pensando na dor que sentia. Deslizava pela calçada em suas roupas pretas, com seu sobretudo cobrindo parte de seu corpo, esvoaçando atrás de si. Houve épocas em que gostava do sol. Não mais. Era bom andar na noite, seu olhar escondido pela sombra da franja, e as pessoas não faziam perguntas, nem cruzavam seu caminho.


I'm over it

You see i'm falling in the vast abyss

Clouded by memories of the past

At last I see


Respirou fundo o ar fresco da noite, seus olhos refletiram em vermelho por um instante. Ouviu um som próximo de música, resolvendo segui-lo. Certas ruas, certos lugares da cidade nunca dormem. E ela sorriu por isso. O som vinha de uma casa afastada, uma casa grande, vitoriana, com tochas decorando a entrada. Olhando melhor, viu outras figuras de preto entrando na casa, passando pelos seus jardins.


I hear it fading, I can't speak it

Or else you will dig my grave

You feel them finding, always whining

Take my hand now be alive


Seguiu seus semelhantes até a parte de dentro da casa, chegando num enorme salão aberto que dava nos jardins dos fundos, por onde a música alta se espalhava. Mais tochas se espalhavam pelo lugar, tentando dar alguma iluminação, mas ainda deixando o ambiente sombrio que todos pareciam apreciar. Luzes negras piscavam pelo salão enquanto seus ocupantes deslizavam, dançando, provocando e tocando levemente seus pares, trocando olhares profundos de cobiça e fome.


You see I cannot be forsaken

because I'm not the only one

we walk amongst you feeding, raping

must we hide from everyone?


Passou distraidamente pelos casais, andando devagar, ouvindo a música, deixando-a entrar em sua cabeça e esvaziar seus pensamentos. Chegou até o jardim, onde alguns também dançavam. Viu um casal se beijando da escuridão e suspirou em descaso acendendo um cigarro. Lembrou-e dele. Saudade. Respirou mais fundo a fumaça do cigarro, sentindo-a penetrar em sua mente, fazendo-a tentar esquecer.


I'm over it

why can't we be together embrace it?

sleeping so long taking off the mask

at last I see


Passou uma garçonete com uma bandeija de bebidas, da qual uma foi devidamente roubada num gesto rápido. E ela bebeu aquele sangue misturado pela fumaça e pelas lembranças. Lembrou do toque dele mais uma vez enquanto sentia-lhe o sangue descer por sua garganta como um drink doce, feito só para ela. Lembrou de sua boca quando seus lábios tocaram o cristal gelado do copo. Sentia falta de seu calor.


My fear is fading, I can't speak it

or else you will dig my grave

you feel them finding, always whining

take my hand now be alive


Correu então de volta para o salão, deixando copo e cigarro pra trás. Precisava daquela atmosfera, da música frenética, do cheiro de fumaça, das luzes piscando, da escuridão profunda, das pessoas distorcidas... queria poder se apegar a qualquer coisa que lhe fizesse esquecer, pelo menos um pouco, daquela saudade que sentia dele...


Everyone

Everyone




Forsaken - David Draimen

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