quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Apartamento - Capítulo Primeiro

Richard voltava tarde de uma reunião de trabalho, foi outro dia longo. Ele dirigia numa avenida sufucada pelo trânsito da hora do rush, e o vidro escurecido lhe atrapalhava um pouco a visão naquela hora da noite. No rádio, ele ouvia Bee Gees, Staying Alive, enquanto aproveitava o sinal vermelho para inclinar o espelho para si e arrumar o cabelo levemente grisalho. Richard aparentava ser mais jovem do que seus quarenta e cinco anos, o cabelo era sempre penteado para trás, o olhar era sério através dos óculos, mas nem por isso tinha muitas rugas.
Apesar das buzinas constantes, ele estava se sentindo bem por estar quase em casa. Tirou suas mãos da conhecida posição "dez para as duas" do volante para abrir um botão da camisa e aumentar o volume da música quando um Gol fez um enorme arranhão lateral em sua Picape. Logo agora?, ele pensou respirando fundo, nutrindo-se de um pouco mais de paciência. Desligou o carro, abriu a porta e saiu. Contornou o porta-malas da Picape postando-se em frente ao outro motorista. A princípio, a escuridão não lhe permitiu ver muito bem, mas então reconheceu aquela face. Tinha que ser.O dono do Gol era Ezequiel, e já o conhecia há uns quinze anos.
Richard morava em Portland, no Maine, num condomínio com várias áreas de lazer, típico de cidade. Havia condomínios mais luxosos, mas aquele se encaixava bem para ele e para a esposa. O apartamento era no décimo segundo andar, a varanda dava boa parte da luminosidade da sala e sua decoração era elegante, misturando o antigo com o moderno. Um lustre de cristal, adaptado para a luz elétrica, pendia sobre uma linda mesa de jantar de mogno trabalhada nas laterais e no centro, e logo em frente, uma televisão de LSD, último tipo era acompanhada de dois sofás muito confortáveis e uma poltrona entre eles. Os quartos tinham uma arrumação mais simples e prática para o dia-a-dia. O ambiente era normalmente dedicado à leitura ou ao sono era podia ser tranquilo, se não fosse um detalhe. O vizinho de cima.
Ezequiel também compara seu apartamento na inauguração do prédio. Era natural que precisavam ser feitos ajustes no lugar, furando paredes, pondo piso, trazendo móveis, martelando madeira maciça, e diversas outras coisas. A maioria dos apartamentos ficou pronta em dois ou três anos, mas o décimo terceiro parecia mais atrasado. Aquele desgraçado. Sempre derrubando coisas... E morava no treze... Não que Richard fosse superticioso, mas o quê ele podia dizer, se simplesmente dava azar? Seu pai lhe dizia muito uma frase que ele também acabou usando milhares de vezes: não acredito em bruxas, mas que elas existem, elas existem.
A frase de seu pai acabou se transformando num de seus bordões principalmente porque também era uma rase adaptável para outros seres do gênero. Podia ser que o número fosse coicidência. Mas era o treze, ele pensou. O número não importava tanto, mas lá em cima, em algum lugar acima dos tijolos do teto, estava Ezequiel e sua família. Como esse cara pode ter família? Richard Aguentou suas reformas por vários anos, mas agora já tinha passado dos limites. Ele furava, martela, ás vezes até gritava sem razão aparente, e os dois filhos, destruíam a casa, como sempre. Reparou que a mulher do vizinho calara-se há alguns meses. Deve ter fugido, pensou. Aquela família é perturbada.
Ezequiel, alí na sua frente, em meio aos carros parados e pessoas estressadas, parecia uma pessoa normal. Não tinha nada de errado para quem o olhasse: devia ter quase quarenta anos, vestido em sua camisa pólo, calsa jeans e sapatos pretos, tinha a chave do Gol na mão e um risinho sem-graça no rosto. O dono da Picape conteve-se para não empurrá-lo para a pista de trânsito bem atrás dele, então deu um ou dois passos na direção do outro homem.
- Muito bem... Qual é o número do seu seguro?
Eles passaram longos minutos falado sobre a despeza que iria dar e voltaram para casa. Richard deixou sua maleta em algum canto e beijou a esposa.
- Rich, você se atrasou hoje, a reunião foi tão longa assim?
Ele respirou fundo. Nem sabia por onde começar, mas quando abriu a boca para tentar articular um começo de frase... TUMP. Andar de cima. Cinco ou seis quilos cairam sobre o teto do número doze.
- Oh, Deus, o que foi dessa vez? - disse Richard olhando para o teto branco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Menine
Esta otimo o seu blog.
Continue postanto que voce tem futuro
ô.ô ...

Anônimo disse...

A estória transmite sob a ótica do cotidiano a vida de um cidadão comum em uma grande metrópole. Os detalhes, representados com clareza, como o aspecto físico do personagem e o ambiente urbano onde vive dão aspecto realista ao conto. Pelo seu nome (Richard) e o lugar onde vive (Portland, distrito de NY), dá para deduzir que ele vive mesmo na terra do Tio Sam.

Assim, só um detalhe compromete a sua estória...

..o que uma "carroça" como um VW Gol estaria fazendo ali? Naqueles lugares as pessoas não dirigem "cortadores de grama". Então, para dar mais credibilidade ao seu texto, tente um carro mais decente, como um Corolla, RAV-4, Grand Marquis, etc.

Enfim, salvo alguns equívocos de gramática, o roteiro foi muito bem desenvolvido, predendo a atenção do leitor com fatos corriqueiros...

Continue o Capítulo 2...

Saudações Vermelhas