Selene corria por todo o castelo, o vestido esvoaçante atrás de si, tudo para chegar ao lago à tempo. Mas, como sempre, calculara demais o tempo e chegou muito cedo. O lago estava lindo como sempre, como no dia em que Tess entrou nele aos tropeços.
Ela largou os sapatos de qualquer jeito numa pedra próxima e saltou para uma parte raza do lago, apenas para molhar os pés enquanto esperava o cavalheiro que ainda não tinha chegado. A água era tão morna quanto a eterna brisa de primavera que era constante em Floratta. Os pés da princesa passeavam sem qualquer dificuldade no chão liso do lago límpido, fazendo pequenos círculos de água a medida que ela andava e saltava pela água, feliz pelo calor que a rodeava, feliz porque estava à espera dele.
Até que os saltos tornaram-se uma caminhada... e a caminhada tornou-se passos... e os passos finalmente se acalmaram, quietos sobre a beirada do lago, que agora parecia um pouco menos límpido e belo do que de costume. Ele tinha se atrasado mais uma vez. Atrasado demais.
Ela olhou para o céu alaranjado que já mostrava suas primeiras estrelas, e o final de uma lua minguante... Selene pensou que a lua lembrava um gato sorrindo, então lembrou-se de uma frase que ouvira quando era criança: "Eu já vi um gato sem um sorriso, mas nunca um sorriso sem um gato".
O que quer de mim, Lua? Rir de mim porque ele me deixou sozinha de novo? A princesa então chutou a área do lago próxima ao seus pés, levantando um bom montante de água e espalhando-a em pequenas gotas brilhantes no ar à sua frente. É engraçado? Ela olhou para o próprio reflexo na água e chutou-a mais uma vez. É mesmo engraçado? Pensou ela cerrando seus punhos sem perceber. Como sou estúpida. Estúpida! ESTÚPIDA!
Uma corrente de água fria passou por seus pés, mas ela não se deu conta disso. Sentiu-se infeliz e vazia, lembrando da quantidade de vezes que já ficara alí. Ele sempre a encontrava no lago depois de seus afazeres. No início, claro, tudo era belo, haviam beijos e abraços. E consideração. Carinho.
Ela o observava de sua torre enquanto os soldados treinavam táticas de guerra, e ele (quando tinha tempo, claro...), observava a princesa em suas aulas de esgrima. Depois dos afazeres de cada um, ambos iam para o lago de mãos dadas. Depois de um tempo, apenas se encontravam lá. E depois de mais algum tempo, ela apenas o esperava, sempre sozinha, porque ele jamais viria, estava ocupado demais com os "deveres do Estado". "Eu sou o Estado!", gritara ela milhões de vezes em sua mente, mas nunca o dissera realmente. Mesmo que o quisesse ao seu lado, sua participação nos deveres do exército eram importantes, e cada vez mais exigidas por causa das várias guerras em províncias vizinhas.
Ela também tinha seus deveres, fazia as relações sociais de Floratta com os representantes das outras províncias, o que envolvia várias viagens até a fronteira, ou ser cordial com aqueles que o Rei recebia. Tais coisas, ainda que necessárias e mesmo sendo coisas que Selene gostava de fazer, eram exaustivas e tomavam tempo e sono. Todo país depende de suas relações exteriores, só era uma pena que certos soldados valorizavam mais a defesa de seu país do que o bom convívio com as regiões próximas e seus representantes... Suas tarefas não eram valorizadas, e, de alguma forma, os deveres de Tess sempre acabavam parecendo mais importantes do que a mera habilidade de estabelecer relações amistosas com os Estados vizinhos.
Com a frequência das desculpas dele, ela pareceu a pôr seu dever (e ela mesma) abaixo das tarefas de Tess, como algo que não importasse... Porque, claro, se importar com a harmonia entre nações vizinhas não era tão importante quanto defender a sua própria. Assim como também o tempo que ela arranjava, corrido e com sono interrompido diversas vezes, apenas para vê-lo, tempo antes tão precioso, querido e importante (pelo menos para ela), agora se dava apenas para Selene decepcionar-se e perder seu tempo...
[Soundtrack: "The Scientist" - Coldplay]
Ela largou os sapatos de qualquer jeito numa pedra próxima e saltou para uma parte raza do lago, apenas para molhar os pés enquanto esperava o cavalheiro que ainda não tinha chegado. A água era tão morna quanto a eterna brisa de primavera que era constante em Floratta. Os pés da princesa passeavam sem qualquer dificuldade no chão liso do lago límpido, fazendo pequenos círculos de água a medida que ela andava e saltava pela água, feliz pelo calor que a rodeava, feliz porque estava à espera dele.
Até que os saltos tornaram-se uma caminhada... e a caminhada tornou-se passos... e os passos finalmente se acalmaram, quietos sobre a beirada do lago, que agora parecia um pouco menos límpido e belo do que de costume. Ele tinha se atrasado mais uma vez. Atrasado demais.
Ela olhou para o céu alaranjado que já mostrava suas primeiras estrelas, e o final de uma lua minguante... Selene pensou que a lua lembrava um gato sorrindo, então lembrou-se de uma frase que ouvira quando era criança: "Eu já vi um gato sem um sorriso, mas nunca um sorriso sem um gato".
O que quer de mim, Lua? Rir de mim porque ele me deixou sozinha de novo? A princesa então chutou a área do lago próxima ao seus pés, levantando um bom montante de água e espalhando-a em pequenas gotas brilhantes no ar à sua frente. É engraçado? Ela olhou para o próprio reflexo na água e chutou-a mais uma vez. É mesmo engraçado? Pensou ela cerrando seus punhos sem perceber. Como sou estúpida. Estúpida! ESTÚPIDA!
Uma corrente de água fria passou por seus pés, mas ela não se deu conta disso. Sentiu-se infeliz e vazia, lembrando da quantidade de vezes que já ficara alí. Ele sempre a encontrava no lago depois de seus afazeres. No início, claro, tudo era belo, haviam beijos e abraços. E consideração. Carinho.
Ela o observava de sua torre enquanto os soldados treinavam táticas de guerra, e ele (quando tinha tempo, claro...), observava a princesa em suas aulas de esgrima. Depois dos afazeres de cada um, ambos iam para o lago de mãos dadas. Depois de um tempo, apenas se encontravam lá. E depois de mais algum tempo, ela apenas o esperava, sempre sozinha, porque ele jamais viria, estava ocupado demais com os "deveres do Estado". "Eu sou o Estado!", gritara ela milhões de vezes em sua mente, mas nunca o dissera realmente. Mesmo que o quisesse ao seu lado, sua participação nos deveres do exército eram importantes, e cada vez mais exigidas por causa das várias guerras em províncias vizinhas.
Ela também tinha seus deveres, fazia as relações sociais de Floratta com os representantes das outras províncias, o que envolvia várias viagens até a fronteira, ou ser cordial com aqueles que o Rei recebia. Tais coisas, ainda que necessárias e mesmo sendo coisas que Selene gostava de fazer, eram exaustivas e tomavam tempo e sono. Todo país depende de suas relações exteriores, só era uma pena que certos soldados valorizavam mais a defesa de seu país do que o bom convívio com as regiões próximas e seus representantes... Suas tarefas não eram valorizadas, e, de alguma forma, os deveres de Tess sempre acabavam parecendo mais importantes do que a mera habilidade de estabelecer relações amistosas com os Estados vizinhos.
Com a frequência das desculpas dele, ela pareceu a pôr seu dever (e ela mesma) abaixo das tarefas de Tess, como algo que não importasse... Porque, claro, se importar com a harmonia entre nações vizinhas não era tão importante quanto defender a sua própria. Assim como também o tempo que ela arranjava, corrido e com sono interrompido diversas vezes, apenas para vê-lo, tempo antes tão precioso, querido e importante (pelo menos para ela), agora se dava apenas para Selene decepcionar-se e perder seu tempo...
[Soundtrack: "The Scientist" - Coldplay]
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