terça-feira, 16 de novembro de 2010

Floratta

Os passos de Tess ecoavam enquanto ele corria pelo piso de pedra do castelo. Tinha muitos papéis em suas mãos e mal enxergava o caminho a sua frente. Ele tomava fôlego para correr cada vez mais, mas só tinha um problema: ele não conhecia o castelo muito bem. "Não estou perdido, só não sei onde estou...", pensava, racionalizando para não deixar o pavor de ser repreendido pelo vice-rei tomar conta de sua mente.

Perguntava-se onde estaria o salão principal, e não havia nenhuma aia a quem pudesse perguntar. Os corredores estavam vazios. Corredores que terminavam em mais corredores, até escolher um que, por acaso, dava num espaço aberto. Resolveu parar um instante pra decidir onde ia, se voltava ou seguia em frente.

Decidiu-se, por fim, ir em frente, diminuindo o passo, chegando próximo de uma espécie de clareira."Por que castelos têm que ser tão grandes, pombas?", disse para si, pegando de alguma maneira seu relógio de bolso para ver as horas. Ao fazer isso, derrubou metade dos papéis que segurava no chão, as folhas se espalharam em volta de si, algumas sendo levadas pelo vento. Praguejou baixinho enquanto abaixava para pegar os papéis, os projetos importantes que o vice-rei tinha solicitado.

O vice-rei era exigente e pontual, não que fosse intolerante, mas ainda assim, era o vice-rei. A cada minuto, ficava mais próximo de estar atrasado, contava os segundos, planejando pra onde iria em seguida, depois de recolher as folhas próximas e ir atrás das fujonas que foram levadas pela brisa fresca. Era conveniente que o clima de Tallulah fosse sempre ameno, era fresco e agradável como uma eterna primavera com ocasionais dias de verão. Pensou que se o chão estivesse molhado, a água já teria borrado toda a tinta dos papéis.

Pegou a última folha de papel mais próxima e se adiantou para procurar as outras. A maioria estava só alguns metros adiante, outras fazendo uma espécie de trilha entre árvores próximas. Foi recolhendo as folhas que se distanciavam alguns passos umas das outras, até abaixar para pegar a última. Neste momento, mais uma brisa forte passou por aquele caminho, roubando a folha do alcance de suas mãos. Correu aos tropeços atrás dela, olhando-a a alguns metros acima de sua cabeça, acompanhando-a na direção do vento, sem reparar para onde ia ou onde pisava.

A folha rodopiava no ar, ora subindo um pouco mais, ora tão baixa a ponto de quase poder alcançá-la. Quase. Sentia seus dedos quase roçando-a quando ouviu um "splash-splash-splash" abaixo de si. Acabara de entrar na beira de um lago quando finalmente pegou a folha nas mãos. "Que ótimo, só me faltava um lago!", disse olhando-o. Então ouviu mais um splash que não viera de seus sapatos afundando na água, mas sim de algum lugar adiante. Levantou os olhos e viu de relance uma garota que gritou e puxou um pedaço de tecido contra si.

Ela olhou-o aparentemente incapaz de responder algo de imediato. Seu rosto estava muito vermelho numa expressão que era um misto de surpresa e vergonha. Aproximou mais o tecido contra si, observando o recém chegado com mais atenção, conhecendo o uniforme. Ele trabalhava para seu pai.

Ele, entendendo a situação ficou ainda mais vermelho que ela, e virou o rosto, afundando-o entre os papéis.

Ambos permaneceram mais algum tempo em silêncio, pensando no que dizer ou fazer.